segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

guia para um correcto "dress code" de puta no carnaval


Quando falta um mês para a mais divertida época do ano – o maravilhoso Carnaval – é chegada a altura de se pensar nas máscaras. A que nos vamos mascarar, quando vamos procurar, o quê, enfim, estamos em plena época preparatória da ocasião.

Como é sabido, este vosso escriba desde há muitos anos que apenas e só se mascara à puta, tendo vindo nos últimos anos a refinar a péssima qualidade e fama da personagem com aquisição de alguns artigos que lhe apimentam o traje, e que felizmente (alguns, pelo menos…) têm sobrevivido quase miraculosamente para o ano seguinte. Orgulho-me, por exemplo, de ter alguns acessórios que vão no 15º Carnaval consecutivo (por exemplo, a minha maravilhosa carteira encarnada) sem grandes sobressaltos.

O que se segue é um guia pessoal, relativo ao critério para aquisição dos diferentes artigos que compõem uma máscara de uma abjecta e nojenta puta rasca de beira de estrada – ou como se costuma dizer, puta de sofá-pedra. Serve para aconselhar os menos avisados sobre o tema, sobre o que e como escolher, e como usar os artigos, e escrevo-o sem falsas modéstias, com a autoridade de quem tem perto de 20 Carnavais consecutivos nas costas, e ainda em puto, enquanto as roupas das minhas irmãs me serviam, também alinhava na festa.

A cabeleira: artigo fundamental numa máscara, porque dela sobressai logo a “qualidade” da nossa puta. Loira, à partida, é puta rasca, morena puta mais chique, a ruiva (as minhas favoritas) dá um ar mais angelical, com um misto de naughty girl que me agrada sobremaneira – para além de serem mais vistosas. Deve ser curtinha (senão é um combate com a alça da mala, e fazem comichão no pescoço, e embaraçam-se em tudo), preferencialmente encaracolada (porque se notam menos as falhas, e dão um ar mais dirty à puta).

Óculos:
muito importantes, devem ser de lentes grandes (estilo Amália Rodrigues, ainda haverá quem tenha relíquias 70’s das mães nas gavetas ou encaixotados), o que apalhaça a puta e lhe dá um ar decadente, sempre interessante. Os óculos permitem também disfarçar os olhos encarnados, e permitem suportar a luz quando se sai do Túnel ao meio-dia.

Maquilhagem:
actualmente, o que eu uso resume-se a brilhantes na cara e no corpo, verniz encarnado na unha (nem podia ser outra cor) e verniz para apodrecer os dentes – este sim, componente essencial. Como cultivo laboriosamente um bigode de 2 semanas antes do Carnaval, este detalhe associado a uma escolha certeira óculos/cabeleira e uns dentes podres, meio caminho estará andado para enojar toda a gente – triunfo, portanto…

Casaco:
provavelmente o mais importante dos trajes. Carnaval é sinónimo de muito frio, e chuva por vezes também dá um ar. Aqui a escolha tem que ser feita com especial critério. Os casacos de pele ou visons são quentinhos, mas são péssimos de transportar e de guardar em cantinhos. Quando se investe num casaco deste tipo, tem que se mentalizar que não resta outra hipótese que não recorrer aos bengaleiros. Os “anorakes” ou “Kispos”, ou o que queiram chamar, enrolam-se à cintura com facilidade, são quentes, mas não têm tanta (falta de…) classe como os de pele – ainda não perdi a esperança de arranjar um de coelho (imitação era melhor…), porque aí ninguém se chegava perto de mim em qualidade.

Mala:
tantas vezes negligenciada, a mala é um artigo a que dou grande importância, porque nele se encontra guardado o meu pequeno mundo não carnavalesco (os maçons chamar-lhe-iam profano…). Deve ser de tamanho médio, de tecido mole (para não pesar), espaçosa, com muitos bolsinhos para separar bem as coisas. A alça deve ser gigante, para permitir que se use à tiracolo, e diminuir os riscos de perda. No bolso interior (de preferência com fecho), devem ser guardadas as coisas mais importantes, como sejam a chave de casa, algum dinheiro, telefones e afins
Quanto mais horrorosas, melhor, e aí vivam os 80’s com a sua memorabilia de adereços. Eu na minha mala levo o estritamente necessário: carteira (a minha velhinha carteira encarnada, companheira de tantas lutas…), vernizes, para dentes e unhas, um telemóvel velho – o meu velhinho Nokia 5110, que desde 1998 não me deixa ficar mal, uma garrafa de plástico com as já celebres e temíveis tampinhas (mix vodka/limão em doses capazes de fazer levantar um moribundo…), uma caixa com um par de óculos extra, e montes de balões, com que faço as minhas maminhas arrebitadas à adolescente.

Traje:
aqui há logo uma decisão a fazer, tailleur ou conjunto micro mini-saia e top. Eu gosto de fazer uma das noites de tailleur, para variar um pouco, e desde que seja bem curto (andar com as cuecas a ver-se é fundamental) eu visto-o. De qualquer forma, normalmente opto por mini-saia/top, porque me permite fazer um conjunto de especial mau gosto e andar com a minha opulenta e hirsuta barriga ao léu, que é quase imagem de marca da casa. Para aquisição de traje aconselho as feiras (Carcavelos é muito boa, Malveira nem por isso), os centros comerciais na zona do Martim Moniz, e para que tem saco, uma ida à Tornada. Nos baús por vezes também se encontram umas pérolas, é sempre de se passar por lá.

Collants:
vão por mim, eu ensino o truque – 3 camadas, uns por baixo de tecido à escolha desde que não asse, a 2ª uns de lã, e na 3ª viva a imaginação, quanto mais assanhados melhor (rendas, desenhos, vale tudo). Por cima dos collants, uma boa cueca fio dental (lojas dos chineses, há aos pontapés), e se houver, uma bela combinação e cinto de ligas (coisa que não arranjo para o meu tamanho infelizmente.
Atenção ao soutien, deve ser bem largo, não façam como eu que tenho uma marca nas costas de um soutien que me arranjaram uma vez. O ano passado arranjei um 54 copa D em Mafra, end of story.
Calçado: sempre, sempre, uns ténis. Como sola em bom estado – imaginem o que acontece ao vosso Carnaval se pisam uma base de um copo de vidro…, de preferência que tenha impermeabilidade – em Torres quando chove, a agua parece uma faca de tão fria que é, e pés gelados para o pé de samba é tramado… Sapatos de salto alto, pantufas, sabrinas, sandálias, tudo isso dá cabo dos pés

Acessórios:
ora aqui está algo a que venho dando valor nos últimos anos, são nestes detalhes que muitas vezes me destaco. Colares, pulseiras, anéis, pregadeiras (queriam…) bandeletes, fitas, plumas, etc., tudo é bom para apimentar a máscara. Eu ultimamente uso um par de algemas na alça da mala, um belo relógio de gaja que me deram as minhas amigas Sornas e H2Loira, colares e o resto, tudo o que consigo arranjar e seja pavoroso eu visto.

Fundamental também, são os acessórios para fazer barulho: apitos, reco-recos, castanholas, chocalhos, venham eles.

O resto, é risota, animação, musica, pé de dança, copos e outros aditivos, algumas quedas (Carnaval que o é, tenho que ir ao chão uma vez…), encontros inusitados, e por fim, luta contra o cansaço e o frio

Dia 16 do próximo mês levanto voo, e aterro algures entre Júpiter e Torres Vedras

6 comentários:

Luijinho disse...

Muito bom post meu caro Antonis! Quem o leu sem foto certamente não terá imaginado uma puta como tu :-)

Foka_bock disse...

Andamos a precisar de fazer alguns amigos mais presentes amigo antónis, não obstante a bela descrição. Obrigado pela partilha dos momentos mais íntimos...

AlémTejo100Lei disse...

Se o carnaval se prolongasse o Tó ia para a praia de bikini (ou mono) touca de flores, cabeleira e sandaloca...

Boas descrições! e um bom manual para quem se quer iniciar nas vestimentas de puta nos carnavais

Claricinha disse...

Só rir Tonixa! és a maior, és mais mulher que muitas!

O carvaval é sem duvida a melhor festa do ano, concordo contigo Antónis, e neste quero ver a Tonixa brilhar!

Até lá

Hugo Rocha Pereira disse...

Belo - e inspirador - post! A foto é já um clássico de Carnaval - só é pena não dares crédito a quem o merece...

Anónimo disse...

Parabéns Tonixa!!!!!! Pela 1ª. vez consegui ler um post teu até ao fim... Irra:) Mas valeu a pena esperar! Santo Carnaval k te traz tamanha (lipo)inspiração. Beijinho (sem pincantinho maroto).